segunda-feira, 19 de abril de 2010

A carta dos petistas que a mirante tentou destorcer

O GOLPE DE 16 DE ABRIL DE 2009 E A TRANSIÇÃO INTERROMPIDAFranklin Douglas
Márcio Jardim
Silvio Bembem (*)

Lembrar um ano do golpe via judiciário no voto popular do maranhense, que resultou na cassação do mandato do governador Jackson Lago, é obrigação de todos aqueles que acreditam na Democracia. E revisitar aquele momento histórico, apontando criticamente os erros e acertos da primeira experiência de governo eleito pelo povo contra o esquema Sarney, é tarefa dos que desejam que a proeza do voto popular que derrotou a velha oligarquia em 2006 se repita em 2010.

O golpe via judiciário do dia 16 de abril de 2009 só foi caracterizado como golpe porque houve um forte movimento de resistência e mobilizações de rua denunciando ele. Fazer essa resistência não foi consenso. Pelo contrário, setores do governo – sobretudo seu chamado “núcleo duro” – apostavam tudo nas articulações de bastidores no tribunal, nada nas ruas (ganharíamos por ampla diferença no TSE, diziam).

Tal pressão popular foi fruto da ação dos movimentos sociais que encamparam a luta em defesa do voto sob a forma de Movimento Balaiada: organizações como MST, Movimento de Moradia, Fetaema, movimentos juvenis como Xô Sarney/Rosengana, movimento de mulheres, direitos humanos, indígenas, quilombolas. O Movimento Balaiada foi articulação popular com sustentação partidária, notadamente de todo o PT anti-Sarney, de boa parte do PDT, do PSB e do PCB. Teve tímida participação do PSDB e simbólica do PCdoB.

Com os “balaios”, somaram-se defensores fora do governo com opiniões e artigos como César Teixeira, Freitas Diniz, Manoel da Conceição, Haroldo Saboia, Zeca Baleiro, Leocádia Prestes, Frei Betto, Beth Carvalho, entre outras personalidades.

A “nova” Balaiada não tomou as ruas nas dimensões pretendidas (envolver o povo amplamente), mas tornou-se fator de mobilização de amplos setores organizados. Isso colocou de 5 a 10 mil pessoas nas ruas em Imperatriz – no dia 13 de março de 2009. Pouco mais em São Luís – em 31 de março. Uma marcha pela democracia percorreu 120 quilômetros de Itapecuru a São Luís (de 24 a 31 de março), com a participação solidária de João Capiberibe, João Pedro Stédile e Olívio Dutra.

O Movimento Balaiada de denúncia do golpe via judiciário contribuiu para: (I) chamar a atenção da mídia nacional para o que acontecia no Maranhão; (II) mudar a opinião pública sobre o juízo de "justiça foi feita" pelo qual o Sistema Mirante massacrava o governo estadual (mesmo ganhando dinheiro do governo até o último dia dele!); e (III) ofuscar a posse de Roseana Sarney – governadora biônica, sem voto e sem Palácio dos Leões – ocupado pelos “balaios” que resistiram ao golpe.

A “Balaiada” poderia ter sido maior, não fosse a minguada base parlamentar na Assembléia Legislativa (que sequer tentou inviabilizar a posse de Roseana no Poder Legislativo); o apoio de raros prefeitos (boa parte dos presentes estava mais interessada era na liberação dos convênios no apagar das luzes); e ausência de vereadores da capital politizando o golpe na Câmara Municipal (nenhum se colocou no debate).

Mas sua baixa adesão social, em São Luís, decorreu de equívocos da condução do governo em questões como a greve dos professores e dos policiais civis. Reconhecer todas as demandas quando o governo já estava em vias de ser derrubado acentuou ainda mais o ressentimento das duas categorias e a percepção de que o governo não negociou pra valer antes porque não quis.

Tal fato, acrescidos dos desvios éticos, corroeu a legitimidade do governo (o ato do governante ser aceito pelos governados). Por isso, junto com outros “balaios”, defendemos há um ano o voto e o mandato popular outorgado pelo povo a Jackson Lago, não o governo, cuja construção das políticas públicas não expressaram o método de governo de coalizão que resultou da ampla unidade das oposições nas urnas de 2006. Além da articulação política em bases fisiológicas que, após um ano, demonstram que em nada acumularam para o avanço das forças populares. Deputados e prefeitos que foram “reinaldistas”, depois “jackistas”, naturalmente voltaram ao sarneísmo sem qualquer pudor.

O Movimento Balaiada, portanto, foi movimento de defesa do valor do voto, da soberania popular, do mandato de Jackson, de denúncia da oligarquia Sarney, onde antecipávamos o desmonte que se teria de diversas políticas públicas que setores progressistas do governo golpeado tentavam construir.

Ao contrário dos neosarneysistas do PT, que agora chegam ao governo estadual pelas portas dos fundos abertas pela oligarquia e sem autorização do partido, entramos no governo da Frente de Libertação, em janeiro de 2007, pela porta da frente: fruto de nossa participação ativa no segundo turno da campanha de 2006, da aprovação por unanimidade da instância partidária (o Diretório Estadual do PT) e de nosso sonho em dar tudo de nós para a realização de um momento novo para o Maranhão. Ficamos como aliados leais até o último momento: do PT não saiu nenhum escândalo no governo e nos faltaram as condições necessárias para avançarmos muito mais com as políticas do governo Lula no Maranhão.

O discurso de saída do governador Jackson Lago do Palácio dos Leões, na manhã de 18 de abril de 2009, em direção à sede do PDT, foi um momento de autocrítica dos erros cometidos no governo: “devíamos ter ouvido mais os movimentos sociais”, discursou o governador deposto. Ali, Jackson Lago revelou que sua sensibilidade pessoal para com os movimentos sociais e as políticas públicas transformadoras não foi acompanhada por alguns de seus mais influentes auxiliares, que revelaram suas faces retrógadas e de conciliação com o sarneismo.

O golpe de um ano atrás interrompeu uma transição (do sarneismo ao que viria a ser o pós-sarneismo) em construção que, em verdade, deveria ter sido uma ruptura com o sarneismo, não fossem as opções dos setores mais conservadores do governo. Erraram os que deram como morta uma oligarquia que tinha sido apenas ferida. Subestimou-se o adversário que, em 40 anos, entranhou-se nos diversos poderes e espaços da República e, em especial, no Judiciário. Com esses equívocos, foi restaurada a oligarquia barrica.

Que o caminho das oposições em 2010 seja de fato guiado pela autocrítica anunciada há um ano. Só a efetividade dela garante não repetirmos os erros do passado e retomarmos a unidade com o povo para uma vez mais derrotar no voto popular a carcomida oligarquia.

(*) Franklin Douglas, Márcio Jardim e Silvio Bembem – foram, respectivamente, secretários adjuntos do Trabalho (SETRES) - 2007 a 2009, Juventude (SEEJUV)-2007/Minas e Energia (SEME)- 2008/09 e da Igualdade Racial (SEIR) - 2007 a 2009. Integram a Direção Estadual do PT-MA.

5 comentários:

  1. 16 de abril de 2009 – Um golpe na democracia!

    Recordo-me claramente as inúmeras tentativas de derrubada do governo popular de Jackson Lago. A primeira tentativa por parte do clã Sarney, foi a midiática operação navalha, onde atribuía-se a responsabilidade de atos passados a um governo que mal iniciara. A partir de então, o PDT de linha de frente desenvolveu várias ações, desde a criação do slogan: “GOLPE NÃO, SARNEY NUNCA MAIS”, até as demais atividades. Certamente que juntos encontravam-se os partidos aliados e os movimentos sociais. O que culminou com a grande recepção do governador eleito no aeroporto de São Luís, como prova de que estávamos preparados para as adversidades que viriam pela frente, com o objetivo de derrubar o governo.

    A operação navalha, urdida nas caladas da noite, era tudo de que precisava o Grupo Sarney para, com a ajuda de alguns líderes sindicais cooptados com dinheiro e outras benesses, penetrasse nas lutas salariais dos servidores públicos, particularmente os da Educação e Polícia Civil, para debilitar politicamente o Governo recém instalado. Quem não se lembra que os faróis do Sistema Mirante ficaram três meses à disposição dos sindicatos defenestrando o Governo? Greves fáceis de resolver pelo diálogo, que o império da comunicação sarneysista impediu.

    A Balaiada foi uma revolta de caráter popular, ocorrida entre 1838 e 1841 na Província do Maranhão, sendo um dos momentos mais heróicos da resistência do povo maranhense. Reconstituída no ano de 2009 pela necessidade de defesa de um governo eleito democraticamente por mais de 1 milhão e 300 mil pessoas contra o golpe que se tramava nos tribunais de Brasília – TSE.

    Foi um processo em que todos os colaboradores diretos ou indiretos tiveram sua importância, não cabendo aqui julgar quem tem maior ou menor importância, sejam deste ou daquele setor da sociedade civil organizada e/ou partidos políticos aliados. Portanto, só temos a agradecer a todos que participaram desse momento heróico na luta pela liberdade do povo do Maranhão. Fora deste contexto, é prestar um enorme desserviço à causa que todos imaginamos defender.

    Afirmar hoje, como fizeram Franklin Douglas, Márcio Jardim e Sílvio Bembem em artigo recente, que houveram erros administrativos no Governo (qual governo não erra? Os do PT?) é falar do menor e deixar ao largo o que de fato interessa: o Golpe Judiciário. Tentar achar culpados numa situação atípica é querer fugir da luta. Contudo, o governo Jackson Lago, sendo um governo de coalizão, tinha que preservar o compromisso do governador de que todos os partidos que ajudaram na sua eleição participassem diretamente da administração.

    Talvez as alianças locais e nacionais daqueles que se entregaram ao “sarneísmo” tenham contribuído decisivamente para a derrubada do governo Jackson Lago. Isto se viu com clareza durante todo o governo golpeado. O PDT e o PT caminharam juntos por mais de 20 anos, Brizola & Lula, Lula & Brizola. Jamais Brizola com Sarney. O maior combate deveria ter sido feito à aliança espúria feita nacionalmente que desde primeiro momento objetivava a deposição do governador eleito. Por isso, entendemos que essa mesma aliança favoreceu diretamente a candidata do Tapetão - TSE.

    O PT e seus ilustres militantes bem que poderiam dar uma palavra a respeito disso, ao invés de se posicionarem como os donos da verdade.



    *Publicitária – Especialista em Assessoria de Comunicação - Membro dos Diretórios Estadual e Municipal do PDT, militante social, ex-presidente da Juventude Socialista/PDT, membro do Movimento Negro/PDT, membro do Movimento Popular de Ação Cultural/PDT.

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  2. Militantes da Juventude Socialista do PDT não perdoam os petistas Franklim Douglas, Silvio Bembém e Márcio Jardim pelas agressões ao ex-governador Jackson Lago no artigo que escreveram no JP do domingo último. Chamam-nos de cara de pau, e entendem que é o começo do jogo sujo da campanha eleitoral. É como se o adversário deles fosse o Jackson e não a Roseana Sarney.

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  3. A resposta veio atráves de artigos dos trabalhistas: Eric Silveira, Presidente da JS e Vânia Frazão, ex- Presidente da JS. Veja no blogs:

    http://www.jornalpequeno.com.br/blog/Raimundogarrone/
    http://vaniafrazao.blogspot.com/

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  4. Continua repercutindo negativamente o artigo escrito pelo Franklin Douglas, Márcio jardim e Silvio Bembem. Aliados e adversários do Jackson Lago tem se pronunciado desfavoravelmente ao que chamam de ingratidão. É que, dizem eles, “serviram-se do governo, em altos cargos de sua hierarquia, e agora é só defeitos que encontram.” O comentário de boca miúda é falam de alguns auxiliares do governo, mas o que querem mesmo é atingir a candidatura de Jackson. Nem se deram ao luxo de aparecer na manifestação do dia 16 de abril contra o golpe. Que é isso, companheiro?

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  5. E por falar em Franklin Douglas, temos que começar a analisar o papel político que vem fazendo a Rede Balaiada. Agora só serve a dois senhores: à candidatura do Flávio Dino e para publicar artigos do seu moderador. Chegou ao ponto de não publicar o artigo do Presidente da Juventude Socialista do PDT, que faz um contraponto ao que o Franklin Douglas (um dos três patetas) escreveu no último domingo no JP. E pensar que os militantes do PDT colaboraram e ainda colaboram com a rede.

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