sábado, 17 de abril de 2010

Dia da infâmia

Estamos hoje, aqui reunidos, para um ato de celebração. Não para celebrarmos uma data, que entrará para a história pela sua infâmia. Mas para exaltar a perseverança de nossa união em torno dos caminhos retos e justos da democracia e da legitimidade do voto popular.

Quando tomei posse, legitimamente eleito e investido no cargo pela vontade firme e irrenunciável do povo maranhense, destaquei que assumia o Governo com a alma engrandecida pela confiança do povo da minha terra.

Mal sabia que já naquele momento tramava-se o golpe judiciário que culminou com a minha deposição. Golpe de jagunço, de gente baixa e mesquinha, de pigmeus morais, como disse um bravo jornalista que honra sua profissão.

Há um ano enxovalharam milhões de votos dos maranhenses com o propósito de devolver o poder à mais nefasta oligarquia familiar do país. Quatro votos confiscaram os votos de milhões de eleitores que escreveram a mais bela página de nossa história, ao dizer um basta! a 40 anos de domínio espúrio.

Quatro votos me depuseram do cargo, mas não depuseram minha disposição para a luta. Não depuseram nossa união. Não depuseram nossa fome de liberdade e nosso clamor de justiça.

Aqui estamos nós, novamente juntos, porque nenhuma violência é capaz de calar quem combate em nome da verdade e da justiça.

Aqui estou eu, me permitam uma reflexão pessoal, marcado pelas rugas do tempo, açoitado no enfrentamento de doença, graças a Deus em franca recuperação. Mas eu dizia, aqui estou eu, e sou o mesmo que há décadas percorre os caminhos do Maranhão, de casa em casa, escutando, participando, lutando por ideais que marcaram a minha vida. Alguns chamam de ideologia, eu chamo de sonhos.

O sonho de uma sociedade fraterna, igualitária, onde o poder de fato emane do povo e seja exercido em seu nome.

Aqui estou eu e posso olhar frente a frente, olho no olho dos meus semelhantes. Porque não perdi a noção de honra que herdei de meus pais. Aqueles que se dizem vencedores, os golpistas, os usurpadores, o próprio mentor do golpe, esse não tem a coragem de botar o rosto na rua. A sua obra, que ficará para a História, é a obra da intriga, da manipulação, da trapaça sôfrega em nome do poder a qualquer custo. A honra que lhe restava tornou-se honorável. Honorável bandido.

Vejo ali uma frase na parede, que diz que "Não há democracia sem parlamento livre". Cabe-nos acrescentar, à luz das lições da história, que não há democracia sem judiciário livre.

E a infame decisão que usurpou o poder há um ano, a cada dia que passa cresce na consciência do país como um momento de indignidade. Uma decisão que envergonha a ordem jurídica ao rasgar a Constituição e empossar os derrotados contra os quais se manifestou a vontade popular.

O sentido de estarmos aqui reunidos é fazer lembrar essa data, para que não se apague jamais e permaneça luzindo na memória das gerações.

Por mais que nos doa na alma, com certeza dói muito mais na consciência daqueles que a perpetraram. E esta cerimônia haverá de se repetir porque jamais nos envergonharão nossas derrotas. A vergonha aflige os derrotados morais, não os combatentes da verdade.

Viva o Maranhão, Viva o povo maranhense.

(Discurso pronunciado no ato rememorando o Dia da Infâmia, 16 de abril, quando um golpe judiciário cassou o mandato de Jackson Lago e o voto de 1,4 milhão de maranhenses).

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