domingo, 30 de maio de 2010
PMDB de Minas ameaça votar contra Dilma
Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A insistência do PT em emplacar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ao governo mineiro abriu nova crise com o PMDB. Em represália, uma ala do partido ameaça votar contra a aliança com Dilma Rousseff para a Presidência.
Dirigentes do PMDB avisaram o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que a parceria com Dilma corre risco se os petistas não apoiarem o senador Hélio Costa na disputa ao Palácio da Liberdade.
"Lamentavelmente, companheiros do PT estão usando uma política rasteira contra mim", desabafou Costa. "Mas não adianta o PT fazer pressão e guerra de guerrilha no grito porque isso não me abala."
Ex-ministro das Comunicações, Costa não escondeu a contrariedade com rumores dando conta de que teria desistido da cadeira hoje ocupada pelo governador Antonio Anastasia (PSDB) para concorrer à reeleição ao Senado. "Se eu quisesse voltar ao Senado, não precisaria fazer esforço", insistiu. "Sou pré-candidato ao governo."
O PMDB de Minas detém 69 dos 804 votos da convenção do partido, marcada para 12 de junho, com o objetivo de homologar a candidatura do presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice na chapa de Dilma. Temer também comanda o PMDB.
Sozinhos, os mineiros não conseguem desmanchar a aliança, mas podem fazer corpo mole na campanha. Além disso, a insatisfação tem potencial para contaminar grupos, já que os diretórios de São Paulo e Pernambuco são contra o casamento com o PT e apoiam José Serra (PSDB). Detalhe: a convenção do PT é em 13 de junho, 24 horas depois do encontro peemedebista.
"O clima está péssimo e para toda ação há uma reação", alfinetou Wellington Salgado (PMDB-MG), suplente de Costa no Senado. "A insatisfação em Minas tem nome e uma coisa é certa: a bancada do PMDB votará contra a coligação com Dilma se o PT não fechar conosco."
Intervenção. Na quarta-feira, uma reunião de dirigentes estaduais do PT com o presidente do partido, José Eduardo Dutra, em Brasília, escancarou o mal-estar. Petistas se queixaram da pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer o acordo com o PMDB a qualquer custo, de olho no precioso tempo de TV da sigla na propaganda eleitoral. O grupo chegou a dizer a Dutra que o casamento com o PMDB só sairá em Minas e no Maranhão se houver intervenção nas seções regionais.
Desde que Dilma começou a crescer nas pesquisas de intenção de voto - ganhando fôlego em Minas, o segundo colégio eleitoral do País, depois de São Paulo -, o PT mineiro voltou a bater o pé pela candidatura de Pimentel. Um dos principais coordenadores da campanha de Dilma, o ex-prefeito venceu a prévia realizada no início do mês contra o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.
Apesar de Pimentel ter conquistado o direito de representar o partido na corrida ao Palácio da Liberdade, o PMDB dava como certo que ele seria candidato ao Senado, deixando a vaga ao governo para Costa. Na prática, esse cenário pode até se tornar realidade - com o anúncio da composição da chapa no próximo dia 6, conforme prometido -, mas não sem trauma. Motivo: discípulos do ex-prefeito não querem desistir da briga pela cadeira de Anastasia, afilhado do tucano Aécio Neves.
"Estamos muito animados e convictos de que o melhor candidato para ganhar do PSDB o governo mineiro é mesmo Pimentel", afirmou o deputado federal Reginaldo Lopes, presidente do PT de Minas. "Vamos convencer o PMDB e os demais partidos da base aliada de que a candidatura do Pimentel também é melhor para Dilma, porque ele tem votos de amplos setores."
Embora Costa esteja na dianteira em todas as pesquisas, petistas o comparam nos bastidores a um "cavalo paraguaio": bom de largada, mas ruim de chegada. Sem querer jogar mais combustível na crise, Pimentel assegurou que o acordo com o PMDB será cumprido, com palanque único para Dilma.
Articulador político do Planalto, Padilha evitou espichar a polêmica e disse não acreditar que o PMDB vote contra a dobradinha com o PT. "A melhor forma de conquistarmos o governo de Minas e o Senado é em aliança com o PMDB", resumiu.
Para complicar ainda mais o cenário, os seguidores de Patrus conseguiram empurrar o encontro do PT mineiro para 19 e 20 de junho. Foi uma estratégia para lavar as mãos e obrigar o Diretório Nacional do PT - que se reúne antes, em 11 de junho - a arcar com o desgaste da "intervenção branca" em Minas. Adversários de Pimentel também desejam que ele pague a fatura política por eventual renúncia.
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